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2004

 

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Você está na Freqüência Global?
 

Por Fabio Fernandes
Número 41

Smart mobs e inteligência coletiva no mundo dos quadrinhos
Os jornalistas que, recentemente, cobraram “coerência” e “objetivos” dos grupos de flash mobbers que tomaram a Avenida Paulista de assalto no mês de agosto não fizeram seu dever de casa: confundiram o conceito de flash mob (evento aleatório e não-utilitário inspirado no dadaísmo mas criado na verdade por adolescentes finlandeses como forma de marcar encontros-relâmpago em shoppings) com a idéia de smart mobs, visualizada por Howard Rheingold, autor de The Virtual Community, em seu livro mais recente, Smart Mobs: The Next Social Revolution.

Nas palavras de Rheingold: multidões inteligentes (smart mobs) emergem quando as tecnologias de comunicação e computação amplificam os talentos humanos de cooperação. (...) Manifestantes de rua nos protestos anti-OMC em 1999 utilizaram websites atualizados de modo dinâmico, celulares e táticas de “enxame” na “batalha de Seattle”. Um milhão de filipinos derrubaram o presidente Estrada através de manifestações públicas organizadas por saraivadas de mensagens de texto.

Em outras palavras: rebeldes com causa reunidos na hora certa e lugar certo graças à tecnologia. As smart mobs podem até ser multidões-relâmpago com as flash mobs, mas com uma diferença fundamental: elas formam uma inteligência coletiva.

Segundo Pierre Lévy em A Conexão Planetária, a inteligência coletiva emerge de processos de cooperação competitiva, ou seja, um tipo de competição que se baseia essencialmente nas capacidades cooperativas dos agentes concorrentes. Lévy postula que o ciberespaço é um meio particularmente favorável ao desenvolvimento de uma inteligência coletiva global da humanidade.

Enquanto esse momento (bastante semelhante ao conceito de noosfera proposto por Teilhard de Chardin e que também é abordado por Lévy nesse livro) não chega, smart mobs podem servir como uma espécie de teste beta para a construção de uma sociedade mais igualitária e colaborativa. E não só no mundo real.

Inteligência underground wireless
A ficção científica – que, desde os tempos do Movimento Cyberpunk, mantém um diálogo permanente com o underground revolucionário – acrescenta mais um elemento de discussão do potencial das smart mobs na forma de uma série de quadrinhos: Global Frequency.

Criada pelo escritor inglês Warren Ellis (responsável por um dos grandes sucessos no mundo das HQs dos últimos tempos, a premiada Transmetropolitan), Global Frequency demonstra, em doze episódios, uma possível aplicação prática das smart mobs através da organização Freqüência Global, criada para proteger o mundo de qualquer tipo de ameaça.

Mas não espere nada parecido com paramilitares ou fuzileiros navais americanos fazendo justiça com as próprias mãos em nome do “mundo livre” (que se resume aos EUA, evidentemente). Ellis é inglês, e como todo escritor inglês de quadrinhos que se preza desde Alan Moore e Neil Gaiman, tem uma visão bastante crítica das instituições. A Freqüência Global não é militar, é desvinculada de qualquer nação ou ideologia, e seus membros – que são sempre mil, nem mais nem menos – estão espalhados por todo o mundo, são pertencentes às mais diversas classes sociais, religiões, cores e sexos. Indivíduos com as mais diversas habilidades – hackers, médicos, físicos, policiais, entre muitos outros – são convocados tendo como critério básico a proximidade do local do problema. Que pode ser uma invasão alienígena no centro de Nova York através de um vírus de computador até uma bomba com antrax na roda-gigante de um parque de diversões londrino ou fanáticos religiosos fora de controle na Austrália.

A Freqüência Global não é uma instituição, mas a corporificação do conceito de inteligência coletiva: não existe um escritório para sediá-la, por exemplo. A única base de operações é a sala onde trabalha Aleph, literalmente uma cyberpunk (com direito ao visual de cabelo tipo iroquês dos punk rockers londrinos dos anos 1970) que monitora através de satélites as comunicações entre todos os integrantes da Freqüência (todos têm um celular especial e exclusivo) e os coloca em contato uns com os outros e com Miranda Zero, a misteriosa coordenadora do grupo.

Micro-smobs
Mas nas histórias que compõem a série, o mais importante não é o celular, que nem é utilizado com todas as suas potencialidades (o recurso de vídeo, por exemplo, só passa a ser incorporado a partir da edição no. 9, de agosto de 2003) e sim o conceito de inteligência coletiva. O grupo de especialistas cooptados por Miranda Zero não compõe uma daquelas equipes de super-heróis de roupas colantes, pelo contrário: são pessoas comuns, como eu e você, convocadas mais ou menos da forma como nos Estados Unidos e na Europa se convocam, em algumas cidades pequenas, cidadãos para trabalhos voluntários em brigadas de incêndio.

Só que é uma brigada de incêndio espalhada por todo o planeta, e seus membros, embora mil, nunca se reúnem ao mesmo tempo no mesmo lugar. A mobilidade e a capacidade de organização de subgrupos é o grande trunfo da Freqüência Global. É o que poderíamos chamar de micro-smobs: pequenas smart mobs prontas para o que der e vier.

O próprio Ellis, embora recuse qualquer rótulo de guru, é o centro de uma rede que se formou ao redor de seu site, Die Puny Humans, e de seu boletim, o BAD SIGNAL, que na última contagem tinha cerca de 3500 assinantes. Foi através desse boletim que os londrinos ficaram sabendo do flash mob de 7 de agosto de 2003, e há suspeitas de que ele indiretamente acabou sendo um dos responsáveis pelas mobilizações brasileiras em São Paulo no mesmo mês. Os 3500 membros da Freqüência de Warren Ellis são bem mais do que os 1000 integrantes da Freqüência Global, o que nos leva a pensar: o que as inteligências coletivas que já estão começando a se formar, através dessas comunidades virtuais, poderiam fazer para ajudar o mundo?


Más información:

Howard Rheingold - <http://www.rheingold.com/index.html>
Smart Mobs - <http://www.smartmobs.com/index.html>
Die Puny Humans - <http://www.diepunyhumans.com>

Rebeldes sem causa “brincam”com telão da Paulista –
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u80436.shtml>
“Rio tem seu primeiro flash mob que funciona” - <http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A587547-28,00.html>


Fábio Fernandes
Jornalista e escritor brasileiro, está finalizando um livro de minicontos, o “Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa”, para publicação em 2004.